Oh, you mean a cork screw!
Embora eu não o tenha lido, certamente que muito já se escreveu sobre o homicídio do Carlos Castro.
No entanto, já alguém tentou descrever a angústia do “Escantão de Cantanhede” nos momentos que antecederem o acto? Já alguém imaginou o desespero pelo qual alguém passa para tentar encontrar o que quer que seja num quarto de hotel, ainda para mais um instrumento cortante?
Aposto que os olhos do rapaz de humedeceram quando - revirando as dezenas de portas e gavetas que os hotéis põem à disposição dos clientes para que eles lá deixem esquecidas diversas coisas - não encontrava mais do que uma chaleira, um secador de cabelo, uma calçadeira ou uma tábua de passar. E chocam-se as pessoas por ele ter sacado o último comprovativo de masculinidade que restava ao Castro com um saca-rolhas? Tiveram eles muita sorte, porque de certeza que uma cirurgia daquelas era muito mais sangrenta e complicada para todos, se fosse tentada com um frasquinho de gel de banho, um comando de televisão ou um dossier com o horário do pequeno-almoço. E de certeza que o executante ainda tentou fazê-lo com o cartão da porta, mas depois tirava-o daquela ranhura e a luz do quarto ia-se abaixo. E dar com uma coisa que se imagina tão pequena, no breu de um quarto de hotel, é uma tarefa pouco glamorousa, como se pretende nestas coisas dos homicídios de quem aparece nas revistas.
Outra teoria que aqui avento é a de o rapaz ter solicitado ao excelente serviço do hotel um “cock screw”, que imediatamente foi confundido pelo prestável staff com um “cork screw”. Claro que isso implicaria que o homicida tivesse um à vontade com a língua inglesa semelhante ao que tinha com a língua da vítima, mas ainda assim não é de excluir a hipótese da pronúncia de Cantanhede ter traído a sua intenção inicial.
Finalmente, não estaria aqui uma oportunidade de marketing para a indústria corticeira nacional? Não revela uma destreza valente executar uma operação daquelas apenas com um saca-rolhas? Não significa isto que o habitual manuseamento da cortiça confere uma irrepreensível perícia a quem o faz? Será que sou eu que tenho que pensar em tudo?