Ordem e progresso
Voltando ao tema, até dou de barato os “oi” quando o empregado de café não percebe o complexo pedido “era um pastel de nata, faz favor”, porque quando é com um honrado cidadão luso nem com uma palavrinha levamos, mas apenas com um ríspido e espasmódico aceno de queixo, como que a dizer “V. Exa. importa-se de repetir a excelsa pretensão, que eu não percebi um pêlo púbico da mesma em virtude da sofrível dicção que lhe apaneleira a fala, pá”, mas lixa-me de sobremaneira, e aqui é inconcebível não concordar comigo, que se diga “meia” em vez de “seis”. É que é só para arranjar confusão. “Meia”, desde “metade” a “peça de vestuário que se enfia no pé ou até mesmo numa orelha se o frio o justificar”, tem vários significados, mas “seis” não é um deles. Que resulta da abreviação de “meia dúzia”, todos nós, ao fim de mais ou menos tempo, percebemos, mas porquê recorrer a uma abreviatura se existe o “seis”? Porque é que não se preocupam em amanhar uma palavra para substituir o destino turístico Jericoacoara, já que andam numa de substituir vocábulos? Tenho a certeza que muitos lá quiseram ir e só não o fizeram porque não conseguiram pronunciar correctamente esse intento.
E mais se me encalacra o cérebro quando ouço “rápais” em vez de “rapaz”. Onde é que aqueles gajos me lêem o “i” em “rapaz”?
Que se acentue ou pronuncie diferentemente uma palavra, eu compreendo e nem vejo maneira de acontecer de outro modo. É como o jornal Record do dia anterior em cima de um balcão de café: está lá, vai sempre estar e não há explicação ou contestação possíveis. Agora um “i” onde ele não existe?
Não quero com isto dizer que eu considero os brasileiros burros. Se o quisesse fazer usava outras palavras, como “os brasileiros são burros”. Mas a verdade é que eles não são. Porque se fossem mandariam as actrizes das telenovelas em vez das que habitualmente mandam. E eu escusaria de andar tantas vezes a fazer xixi torto.