sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Ordem e progresso

Há uns tempos um gajo estrangeiro perguntou-me “who speaks Portuguese correctly, the Brazilians or the Portuguese?”. Ou então sonhei com isto, olhem já nem sei que eu ando tão fartinho disto tudo. Bom, na altura, como era bem possível que eu estivesse bêbado, o que só vem afastar a tese do sonho, respondi “it’s different, blah, blah, blah”, quando na verdade devia ter respondido “claro que it´s us, ora foda-se” e depois passava a explicar esta convicção como deve ser ou na medida em que a ebriedade me permitisse. E ela permite muitas coisas, como escrever estes textos, mas também impede muitas outras, como saltar por cima de caixotes do lixo ou fazer xixi a direito.

Voltando ao tema, até dou de barato os “oi” quando o empregado de café não percebe o complexo pedido “era um pastel de nata, faz favor”, porque quando é com um honrado cidadão luso nem com uma palavrinha levamos, mas apenas com um ríspido e espasmódico aceno de queixo, como que a dizer “V. Exa. importa-se de repetir a excelsa pretensão, que eu não percebi um pêlo púbico da mesma em virtude da sofrível dicção que lhe apaneleira a fala, pá”, mas lixa-me de sobremaneira, e aqui é inconcebível não concordar comigo, que se diga “meia” em vez de “seis”. É que é só para arranjar confusão. “Meia”, desde “metade” a “peça de vestuário que se enfia no pé ou até mesmo numa orelha se o frio o justificar”, tem vários significados, mas “seis” não é um deles. Que resulta da abreviação de “meia dúzia”, todos nós, ao fim de mais ou menos tempo, percebemos, mas porquê recorrer a uma abreviatura se existe o “seis”? Porque é que não se preocupam em amanhar uma palavra para substituir o destino turístico Jericoacoara, já que andam numa de substituir vocábulos? Tenho a certeza que muitos lá quiseram ir e só não o fizeram porque não conseguiram pronunciar correctamente esse intento.

E mais se me encalacra o cérebro quando ouço “rápais” em vez de “rapaz”. Onde é que aqueles gajos me lêem o “i” em “rapaz”?
Que se acentue ou pronuncie diferentemente uma palavra, eu compreendo e nem vejo maneira de acontecer de outro modo. É como o jornal Record do dia anterior em cima de um balcão de café: está lá, vai sempre estar e não há explicação ou contestação possíveis. Agora um “i” onde ele não existe?

Não quero com isto dizer que eu considero os brasileiros burros. Se o quisesse fazer usava outras palavras, como “os brasileiros são burros”. Mas a verdade é que eles não são. Porque se fossem mandariam as actrizes das telenovelas em vez das que habitualmente mandam. E eu escusaria de andar tantas vezes a fazer xixi torto.
FR