quarta-feira, julho 23, 2008

Ai Jesus que feliz eu estou

Na senda do meu post anterior, eis chegada a hora de divagar sobre o acordo ortográfico ou, como eu propus que se chamasse, o hacordo hortográfico. A proposta, de tão boa que era porque resumia o teor do acordo na sua própria designação, não colheu. Hão de cá vir.
Ora, o acordo ortográfico esfrangalha-nos o bom português tal como o conhecemos. É um facto. Mas isso não me estorva nada a vidinha. Eu sou contra o acordo, sim senhor, mas apenas porque o mesmo foi aprovado na Assembleia da República. Por princípio, eu sou contra tudo o que é aprovado na Assembleia da República, desde o Orçamento de Estado ao voto de pesar pela morte da mãezinha de um deputado qualquer, passando evidentemente pelos números do euromilhões que o plenário escolhe semanalmente na vaquinha que lá têm para ver se ganham o jackpot ou fazem pelo menos quatro números e uma estrela, que já não é nada mau.
Compreendido que está o meu asco pelo único órgão de soberania cujos titulares se vêem à rasca para estacionar, cumpre dizer que até concordo com o acordo ortográfico, por uma série de razões que me estão a ocorrer agora mas que quando as for escrever lá mais para a frente já só me vou lembrar de uma ou duas.
A primeira é que o pacto linguístico vai levar à extinção do nosso idioma, o que nos permitirá ir a uma livraria e não gramar com os livros do Miguel Sousa Tavares. Desconfio até que a ideia toda do acordo é essa, o que leva desde já o meu aplauso.
A segunda razão é que a sua aplicação não é obrigatória. Ou seja, se eu amanhã quiser substituir as consoantes por ditongos, alterar artigos pessoais e estropiar tempos verbais é cá comigo e não advém daí nenhuma chatice. Assim como assim, e com a honrosa excepção de V. Exa., só quem tem pouco que fazer é que me lê.
A terceira e última razão é outra vez a do Miguel Sousa Tavares que, caramba, é uma grande notícia, até porque me lembrei que ele também escreve para uma porrada de jornais e revistas que eu não leio mas assim sempre se poupa nas arvorezinhas, as quais nos preocupam tanto ou não fosse este blog amigo do ambiente. Ok, amigo é qualificação desmesurada, mas conhecido de vista do ambiente ou cumprimentamo-nos quando coincidimos no elevador do ambiente. O que importa é que o Sousa Tavares esteja quietinho e que os livros dele sejam reciclados em panfletos de restaurantes indianos ali ao Martim Moniz. Daqueles que põem nos pára-brisas.
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