sexta-feira, março 20, 2009

Papa, macacos e Duty Free

Tal como o Filipe bem glosou aqui em baixo (glosa como poucos, o rapaz), o Papa está em Angola.
Ainda antes de arribar, já o Sumo Pontífice entornava disparates, como se ao sumo alguém tivesse adicionado uma barrica de Smirnoff, dizendo que o preservativo não só não evita a SIDA como ainda é responsável pela sua propagação. Todavia, não se apresse V. Exa. a culpar o Santo Padre por estes dichotes de mau gosto, pois o homem tem razão num aspecto: sem preservativos já não havia ninguém no continente vermelho para pentear macacos há muito tempo, quanto mais para transmitir o vírus HIV. É que já nem haveria macacos para pentear. Nem para um brushing ou para umas nuances.
Ora, na senda deste pensamento hedonístico de Bento XVI, até proponho mais: deixe-se de mandar medicamentos para curar ou adormecer a doença; num instante os infectados nem vão ter tempo para um cinema e jantar, quanto mais para levar a respectiva dama a ver as estrelas e passar-lhe o bichinho. Concluindo, quanto a esta questão, estou com o padreco.
Já quanto à segunda bojarda que ele atirou com a chuteirinha da Prada à chegada a Luanda, não posso concordar. Disse ele que, e evite V. Exa. rir, “as riquezas materiais e espirituais de Angola devem ser mais bem distribuídas pelos seus habitantes e que o país deve usar o seu poder para ajudar a construir uma África mais solidária”.
O presidente angolano, que ouvia atentamente, fez logo aquele ar pouco abonado que eu faço quando vou no Metro e um indiano me pede uma esmola, levantando as sobrancelhas, acenando que não com a cabeça e encolhendo os ombros, como que a dizer “epá ó Apu, não tenho nada”.
Os empresários que estavam no local concordaram com o Papa e decidiram aumentar o salário mínimo em 10%, passando agora a ser dois dólares e meio, antes de imposto.
Os voluntários das associações humanitárias foram os únicos que fizeram realmente algo diferente, fazendo distribuir vinte milhões de preservativos pela população angolana. Diz quem lá estava que foram duas horas bem passadas. E a entourage de bispos que acompanhava o Papa estava cansada do voo e das compras no Duty Free.
FR