A marca
É ela: se gostas tanto de uma pessoa ou de um provérbio, porque é que tatuas o nome ou a frase ou lá o que é isso que saiu da tua lastimosa imaginação inferior à de uma anta paleolítica [citation needed], em chinês, em hebreu ou em aramaico?
“Tatuei no braço esta frase do Confúcio em caracteres mandarins porque ela representa para mim o sentido da vida!”
Pois, grande sentido que a vida tem para ti que nem se percebe nada do que está aí escrito. Podia estar aí tatuada a prescrição médica dos remédios para a vista do Confúcio que também dava uns caracteres bem giros, não era?
E os nomes das criancinhas ou da namorada?
“A minha filha chama-se Íris por causa do Arco-íris e quis tatuar o nome dela em Maori, para que a menina saiba que eu nunca me esquecerei dela.”
É de facto um aborrecimento quando nos esquecemos dos filhos, não é? O que é feito da foto na carteira, daquelas de fotógrafo com o picotado à volta, com as cores debotadas? Será de facto útil, enquanto num autocarro e depois de se encontrar aquele amigo que não se via há dez anos, ficar em tronco nu e pedir ao gajo para ler o que diz nas próprias costas para que nos lembremos do nome do pirralho?
“Ah é a casa com um traço diagonal e umas ondinhas em cima, espera que eu vejo aqui no dicionário cantonês arcaico – português como é que se chama o meu mai novo.”
Para mais, relembro que a Íris, que não vê a hora de fazer dezoito anos e mudar o nome para qualquer coisa de extravagante, como Maria, porque anda farta de ouvir a mesma piada cada vez que se embebeda e dizem que ela está muito branca e alguém completa dizendo que agora tem oito cores, a Íris, escrevia eu, quer é esquecer que tem uma mãe imbecil que tem tanto jeito para escolher nomes como para pesquisar na net como é que se diz Íris em Maori e que por isso mandou escrever na nuca, a título permanente e pagando para o efeito, “sanita” em Moldavo.
Estas tatuagens têm, no entanto, o condão de referenciar cidadãos idiotas com débil capacidade decisória no que ao bom gosto concerne: quais judeus obrigados a envergar a estrela de David, estes imbecis ostentam no corpo – voluntariamente - a marca indefectível da estupidez.
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