segunda-feira, novembro 06, 2006

Pluma bruta comàscasas


Hoje de manhã, enquanto degustava um frapuccino no bar do Ritz - único sítio onde se toma convenientemente um pequeno-almoço em Lisboa - passava os olhos sobre o recente manuscrito que o Philip Roth me enviou, como sempre faz, para revisão. Tracejava aqui e ali com a minha Montblanc comprada em Milão, quando ouvi na mesa ao lado sussurrarem sobre mim. Estou habituado a estas cenas, mas desta vez o conteúdo da conversa incidia sobre o meu mandato na Casa Fernando Pessoa. Genial, dizia fulano. Brilhante, dizia sicrano. Enfim, o costume, mas desta vez com dose apreciável de bom-senso...
De repente, surge detrás da enorme Perrier que repousava sobre a minha mesa, em cima das Obras completas de Proust que relera no taxi que me levara ao hotel, a Clara Ferreira Alves.
Podia ter lá ido discutir com ela as últimas críticas do Magazine Literaire, as colunas semanais do The New York Times ou até mesmo as para alguns indecifráveis opiniões dos repórteres do Beijing Weekly, mas preferi levantar-me, pulular pela carpete marron do bar, por entre o mobiliário século XVII, retirar o botão de punho Cartier comprado em Londres, arregaçar a manga da minha camisa Dior oferecida pelo próprio, comprimir os delicados dedos e espetar a maior solha, habitualmente servida em termos apenas no famoso Cochon parisiense, na fuça da gaja cuja foto consta neste post, aliás o melhor de sempre.
Obviamente que a minha destreza física cumpriu o delineado, pelo que a matei. Proclamei então, sem medos como é meu timbre, ser o melhor e mais culto cidadão do mundo de sempre.
FR

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sim, é pedante. Mas esta sabe exactamente o que diz... A forma é snob mas o conteúdo mostra efectivamente alguma intelectualidade. A solha assentava melhor no outro...

P.S. Excelente post. Apanhaste-lhe bem os tiques de escrita.

segunda-feira, novembro 06, 2006 9:59:00 da tarde  
Blogger Grow2Harvest said...

Até hoje estava impoluto, incólume, virgem diga-se, relativamente à maneira desta senhora escrever.

Infelizmente, deixei de o estar.
é favor afastar todos os objectos contundentes...

segunda-feira, novembro 06, 2006 10:25:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ah! Isso é só inveja! Quase que aposto que nunca conheces nenhuma das obras ou nenhum dos filósofos, jornalistas o escritores, franceses, norte-americanos, chineses ou vietnamitas de que ela fala. Ah!

domingo, novembro 12, 2006 3:52:00 da tarde  

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