quinta-feira, outubro 14, 2010

Ockley, Hope Edition

“Abajo solo queda el viento”, disse Manuel Gonzalez, o último socorrista a deixar a mina onde 33 mineiros chilenos viveram durante 69 dias. No Chile são uns maricas, é o que é. Se isto fosse na Alemanha o último socorrista diria “a operação correu tal como planeado”, se fosse em Portugal diria “só há a lamentar a falta de apoios das várias entidades que têm responsabilidade nestas matérias, vocês sabem do que estou a falar” e se fosse na Áustria diria “estes gajos deviam ser presos por meterem os outros em trabalhos”. Acho que se devia gozar mais com a Áustria, um país que nunca trouxe nada de excepcional ao Mundo, tirando os primeiros álbuns do Mozart (depois tornou-se pretensioso).
Ora, como esta história toda teve lugar no esguio Chile, terra que nos dá vinho do bom e alguns pontas-de-lança decentes, com paisagens espectaculares pelo meio, a coisa adoça-se e começa a lamechice. Mas a verdade é que os mineiros não estavam, para o fim, assim tão mal. Basta ver que as condições deles melhoraram muito, ao ponto de, mais para o fim, terem metido lá em baixo um estúdio de televisão e uma loja da Ockley.
Para mais, em não sei quantas semanas, o melhor grito de guerra que arranjaram foi “Chi Chi Chi, Le Le Le, Los Mineros de Chile!” É que isto nem o Professor Queiroz – que inventou o genial e estóico “Portugal Huuu, Portugal Huuu” - gritaria no balneário, com a breca! Cá para mim eles lá em baixo andavam um bocado baldas e como lhes disseram que só saíam lá mais para o Natal, depois tiveram que arranjar o grito de guerra à pressa. Os sornas. Não têm desculpa, até porque nos primeiros vinte dias das belas férias que gozaram ainda não tinham contacto com o exterior, nem sabiam se ainda andavam à procura deles, se veriam novamente a família e os amigos, limitando-se a comer uma colher de atum a cada dois dias, pelo que tinham muito tempo para criar um lema melhorzinho.

Vinte dias.

Pensando melhor, lá em baixo não ficou só o vento. Ficou também o medo de que os outros desistam de nós.

FR