quarta-feira, novembro 19, 2008

Razão para não ler Lobo Antunes

Saí de casa
(como sempre e recordando as sovas que o meu pai
ai pai!
aí me dava)
em direcção à paragem das camionetas.
Frederico
chamaram
Frederico
outra vez
Frederico
era a chata da minha tia que tinha a mania que era minha mãe a avisar que me esquecera do casaco castanho que me protegia da merda da chuva que só não era castanha porque antes de ser merda era água
Frederico
lá voltava eu atrás
ó tia hoje não deve chover ouve o que eu te digo que sou mais velha
respondia o raio da velha sempre a moer-me o juízo, já de si débil, ó caralho.
Sempre a apoquentar
e lá voltava eu ao caminho da paragem que jazia sempre detrás daquela curva esguia onde não havia semana que não se lá espetasse uma motoreta de um bêbado.
Frederico
voltava a apoquentar
ó Frederico
e sempre a apoquentar
levas dinheiro para o lanche? É mas é para o cavalo dizia eu entre os poucos dentes que me restavam
(por causa das bulhas em que me metia)
Levas ou não levas?
sempre a apoquentar
levo levo, catano dizia eu para não dizer palavrões em frente da velha que depois me obrigava a ir visitar a vaca da irmã a quem eu já tinha fanado tudo lá de casa
Levo levo catano, levo levo
Levo o dinheiro e muita angústia que a vida é assim com a minha tia.
Levo levo mas queria é que a Luísa
aquela da padaria
que a Luísa me levasse para o Canadá quando partiu para esse país
a Luísa
para a América para ter uma vida melhor apesar do frio que me congela os tomates
a Luísa
Levo levo devia dizer-me ela a mim para eu não aturar a tia.
Frederico
O que foi agora fónix ó velha?
FR