sexta-feira, agosto 22, 2008

Catarro

As olimpíadas de Pequim são um verdadeiro manjar dos deuses para alguém como eu que, esparramadíssimo no sofá, sei ver algumas modalidades com o mesmo interesse e empenho que um adolescente bota num desfile da Victoria Secret.
Já o Paulo Catarro, cuja figura púbere e voz à procura de maturidade eu até nem odeio, prefere falar com a Odete Santos em vez de transmitir vezes sem conta o tropeção e consequente choro compulsivo da menina Lolo Jones nos 110 metros barreiras ou a patética passagem do testemunho nas provas masculina e feminina dos 4x100 metros. Isto sim, são coisas que me comovem enquanto entretêm. Já a Odete Santos, mãezinha, não me provoca uma única sensação positiva. A senhora podia tentar apanhar com os dentes o avião que caiu em Barajas que eu mudava de canal com indiferença só para ver se os 50 km marcha já tinham acabado, apesar de eu ter visto há menos de cinco minutos que só iam no quilómetro dois e meio. É para verem a consideração que eu tenho pelas pilhas do meu comando de televisão.
Ginástica, igualmente, nem vê-la. Por sorte, vi no Eurosport o final de um Itália – Polónia em volley que teve mais interesse que a Volta a Portugal toda e no entanto o Paulo Catarro foi incapaz de blocar a Odete com uma bicicleta nos cornos. Fico doido.

Como doido fico com o facto de a Bíblia, tão grande tão grande mas nem especifica qual o tipo de pão que foi multiplicado. É que pão, assim só, pão, não existe. O que há é pão saloio. Pão brioche. Pão alentejano. Branco. De cereais. Integral. Não há só pão. Lembrei-me disto porque no outro dia perdi uma excelente oportunidade de retorquir “onde é que está um Jesus Cristo quando é preciso?” quando a senhora do sítio onde pedi uma tosta me disse “há pouco pão”. Era pô-la a ver o programa do Catarro, à cabra. Como frequentemente me acontece, só depois (alguns quinze dias) é que me lembrei desta resposta. Não que a cabra a percebesse, mas tinha-a para mim como uma vingança por a gaja nesse dia me ter feito almoçar um cornetto de doce de leite. A cabra, que aquilo nem é cornetto que se apresente. Como os da Odete. Olhem, já nem sei que escrevo, fiquem com a pobre Lolo.

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