quarta-feira, fevereiro 04, 2004

O caminho mais longo

Numa altura em que muito se fala no aquecimento global do planeta, e as suas repercussões na climatização da terra, bem como os desastres naturais que origina, e ao mesmo tempo nos problemas económicos e sociais que são a globalização, a concentração empresarial e os monopólios, ocorreu-me que grande parte das pessoas são um bocado parvas, por não constatarem o seguinte:
Não estarão os problemas meteorológicos dependentes destes segundos problemas? Explico: será que os desastres naturais ocorreriam se houvesse um maior estímulo a quem trata das condições climatéricas? Reformulo, para os que ainda não perceberam: será que se São Pedro tivesse concorrência, teríamos a porcaria do tempo que temos agora?
A resposta é, obviamente, um inafastável não!
Na minha opinião, há um grande desleixo na forma como São Pedro encara a profissão - nobre, acrescente-se - que escolheu. Mas a culpa não é do homem! A idade começa a pesar e a motivação não é a mesma da há uns anos atrás. Hoje em dia, com o mundo claramente em auto-gestão, já que Deus deve estar num qualquer outro planeta paradisíaco a curtir, São Pedro não é repreendido, tem o horário que quer, só não vai de férias porque não tem com quem ir, esquece-se dos afazeres diários, enfim, é o espelho da incompetência. Espelho esse embaciado por causa da chuva, está claro.
Depois há a mísera reforma que espera o referido santo. Se fosse alguma coisa de jeito, o milagreiro para lá correria - e escorregaria por causa do gelo. Agora assim, e chegado ao topo da carreira, ninguém o demove da intenção de permanecer no cargo.
Houvesse uma multinacional que se ocupasse da regulação meteorológica do nosso planeta, com técnicos profissionais especializados, e teríamos, contrariando o provérbio, sol na eira e chuva no palhal. Nunca mais haveríamos de ver - para alguma pena minha, admito - turistas alemães de calções, meia branca e sandálias, rumando ao Bairro Alto, por entre rápidos dignos de uma tarde de rafting, transformando a Rua do Alecrim num rio Paiva urbano. Nem veríamos um agricultor descontente com as colheitas anuais. Nem sequer uma reportagem de um deslizamento de terras no Guatemala.
Urge portanto, não contestar o governo solicitando reformas do sistema meteorológico - porque é escusado, mas mandar bocas só para chatear o próximo.
Desta forma, em suma, teremos menos tempo de antena com notícias sobre o tempo e poderemos ver mais vezes o The Daily Show with Jon Stewart, cujo recém afixado link está na coluna da direita.
Isto faz sentido e você, que está a dar como totalmente perdido o tempo (aquele que não tem a ver com a meteorologia, mas o dos relógios) que demorou a ler este post, sabe-o. Tanto que está neste momento a acenar que sim com a cabeça. Ok, não está, mas de certeza que agora está a pensar "não estou, não!".
FR