segunda-feira, março 24, 2008

Entrevista e crítica

Esta comovente história de paixão e violência, protagonizada por uma professora, uma aluna do 9.º ano e um telemóvel, tem dado muito que falar. Nós aqui no Montra decidimos igualmente abordar o assunto, mas fazendo-o da forma mais responsável possível. Escrevi responsável? Era parva. Bom, entrevistámos a aluna. Como não encontrámos o aluno que filmou a cena, e como a entrevista decorreu via telefone, sobretudo para nossa segurança – a aluna estava evidentemente a falar de uma cabine - fica a transcrição:

M - Estou sim?
A - FAZ-ME A PERGUNTA, JÁ!
M - Ok, calma. Como é que te chamas?
A – Guidinha.
M – Olá Guidinha. Podes descrever o sucedido?
A – Saí de casa e vim para esta cabine falar contigo.
M – Não, refiro-me ao que se passou na sala de aula: a disputa com a professora por causa do telemóvel.
A – Por que é que não disseste logo? A velha topou-me o Nokia topo de gama e quis ficar com ele. E eu não deixei.
M – Estavas a usar o telemóvel quando ela to tirou?
A – Não, estava a mandar uma mensagem.
M – Então estavas a usá-lo…
A – És surdo? Estava a mandar uma mensagem!
M – Os teus pais repreenderam-te ou castigaram-te?
A – Sim, porque demorei muito a conseguir ficar com o telemóvel, até porque como a minha avó disse, a velha é minorca. Os meus pais disseram que não percebiam o que é eu ando a fazer nas aulas...
M - Ah, disser...
A - ... de full contact.
M – E estás arrependida disto tudo?
A – Sim.
M – Já pediste desculpa à professora?
A – Qual professora?
M – À velha…
A – Não, porquê?
M – Se estás arrependida…
A – Estou arrependida de ter saído de casa para vir falar contigo. Ainda por cima tive que arrear num velhadas que estava aqui a usar a cabine.
M – E agora, o que pensas fazer?
A – Vou sair da escola. A Optimus já me convidou para fazer um anúncio com o título “É meu e só meu”.
M – Obrigado, Guidinha. E força!

Por último - e isto é importante para aferir a orientação escolar do aluno - é conveniente deixar aqui uma crítica séria ao filme realizado pelo colega da Guidinha:

“Cena na sala de aula” é o primeiro filme realizado por C. O registo intimista captado na sala de aula, recorrendo aos motivos cinematográficos iniciados pelo movimento Dogma, caracterizados sobretudo pela ausência de encenação e de elementos estéticos (desde logo, a despreocupação com a iluminação e o guarda-roupa), reflecte as origens do autor. A importância do tema “violência na escola” celebra os ensinamentos recebidos na mesma. Apesar da curta duração (à qual não é alheia a falta de orçamento – mais atenção Ministério da Cultura!), nota-se personalidade. Fica-se ansiosamente à espera da segunda obra.
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