quinta-feira, abril 22, 2010

Santa vidinha

A qualidade de vida, excelentíssimo leitor, já era. Precisamente, um exemplo de que a vidinha que levamos perdeu o gozo, já vai longa e nunca mais acaba, reside nos computadores, como esse que V. Exa. tem à frente.
Veja como, e foda-se se isto não está tudo mal, as maiores vantagens que os computadores nos podiam trazer estão esbatidas, para não escrever fodidas porque já tinha começado a frase com um foda-se, porque os programas, que deviam ser controlados por quem os usa - nomeadamente por mim, que sou o caso que conheço melhor - são afinal controlados pelos programadores que os fazem e aparentemente nunca conseguem acabar.
Constate V. Exa. como pagamos para usar um programa mas nunca compramos o produto final. Compramos sempre uma versão inacabada que precisa de constantes actualizações, mas que apesar disso nunca funciona melhor. Por cada actualização que um programa faz, eu imagino um desses programadores a dizer “epá, estive a ver melhor e afinal isto assim é que fica bem.” É o mesmo que me aparecer lá em casa o arquitecto a dizer “desculpe lá a maçada, mas estive a pensar e esta janela fica melhor noutro sítio. Fazemos as obras agora ou quer que o relembre daqui a 10 minutos?”
E continue V. Exa. a constatar que nós pagamos sempre, resignados que estamos à vontade de uns informáticos ignorantes e imbecis que sabem quanta memória ocupa uma foto de uma gaja mas não se lembram da última vez que beijaram uma. Uma gaja, não a foto. Isso era porcaria.
Mais grave é que este princípio do “lixe-se a pessoa, há que tratar bem é das coisinhas mesmo que isso complique a vida a toda a gente” começa a valer igualmente para outras coisas: os telemóveis vêm com um software obscuro porque já não são suficientes para fazer chamadas e os bancos e os serviços básicos passam a santa vidinha a arreliar as pessoas com alterações aos contratos, serviços e preçários e querem saber tudo através de inquéritos de satisfação que, não obstante os resultados, ainda não se chamam inquéritos de insatisfação. A tia deles.
FR