Gosto deste gajo

O vídeo que mostra este caramelo a dar um mortal duplo encarpado após magnífica cornada do touro é absolutamente delicioso. Mas sinceramente, a pérola desta ostra são os comentários, sobretudo os do toureiro. Comecemos, porém, pelos do jornalista.
Diz o gajo que o toureiro ficou inconsciente. Não duvido. Deve ter ficado inconsciente quando tinha para aí seis anos, ou não se punha à frente de um touro de 602 quilos. Bom, o homem perdeu os sentidos, pelo que o aconselho a procurá-los ao pé do juízo, que concerteza também perdeu algures. Não conheço a casa do toureiro, mas ele que comece a procurar os sentidos, o juízo e já agora o discernimento entre as almofadas do sofá, sítio onde costumam estar caídas uma série de coisas.

Depois começa a intervenção do herói da festa brava. Em primeiro lugar, diz que ficou “chateado por o touro ter agarrado o cavalo”. É natural. Imagine-se a lata do touro, que depois de ser espetado com um ferro faz uso do seu instinto para se defender. Ainda se a cornada fosse premeditada, treinada e racionalmente “amandada”, tal como faz o homem, agora assim, do nada. O atrevimento!

O toureiro continua, dizendo que “num acto de coragem” saltou do cavalo e pôs-se à frente do touro. Foi sem dúvida um acto de coragem. O mesmo tipo de coragem, precisamente, que levou o meu primo a atar-se à asa de um Boeing 747. Por razões que se desconhecem mas que certamente têm a ver com manifesta falta de sorte, o meu primo morreu. Mas demonstrou bravura. Eu já lhe tinha dito várias vezes “mas és corajoso ou quê?” e “Irra que és corajoso!”, mas ele sempre foi assim, desde pequenino, muito bravo.

O toureiro termina afirmando que “foi um acto de defesa do cavalo”. E compreende-se, porque todos sabemos que o cavalo está caro. E de facto o gajo defendeu exemplarmente o equino. Repare-se, ao segundo :46 do vídeo, que enquanto o gajo faz frente ao touro, o cavalo aproveita para se pirar, num misto de esperteza (ou falta de coragem) e vergonha. Aposto que o cavalo ia a pensar “ok, baza, faz de conta que não conheces o gajo dos collants brancos...”.

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